segunda-feira, 5 de maio de 2008
O Eterno Cardeal
O editor executivo de esportes e colunista do jornal Zero Hora, David Coimbra - que também é comentarista da TVCom -escreveu no dia 20 de abril, na página número 49 da ZH, um texto referente à Cardeal, um dos heróis do título do Fantasma de Campeão Farroupilha de 1935. O texto, que também pode ser lido em seu blog pessoal, conta sobre os feitos deste jogador, que chamava a atenção de todos os que o assistiam jogar.
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Sezefredo Costa (foto), o Cardeal, despontou para o Brasil e para a América do Sul, quando deu ao seu clube de coração, o antigo Regimento de Pelotas, o campeonato estadual do ano de 1935, derrotando o Grêmio na capital. Depois Cardeal partiu, convocado para comandar o ataque da Seleção Brasileira, em 1937, brilhando no Sul-Americano.
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Segue abaixo, o texto de David Coimbra:
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Cardeal não precisava correr
_O Cardeal não tinha um pulmão. Arrancaram-no durante uma cirurgia de combate à tuberculose ou outra doença tão terrível quanto. Bem ruim uma pessoa não ter um pulmão, pior ainda para Cardeal, que era centroavante. Jogou em Pelotas nos albores do século passado, que tão distante já se vai. Tornou-se uma lenda que respirava e calçava botinas. Quem o viu em campo jura jamais ter existido centroavante como Cardeal. Mais tarde, o Fluminense o contratou e também no Rio Cardeal foi venerado como um semideus, como um Hércules, um Maciste.
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Ouvi falar de muitos jogadores como Cardeal, dos quais seus contemporâneos asseguravam, dedo em riste, queixo erguido;
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- Melhor que Pelé!
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Houve muitos desses: Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Gessy Lima. Muitos. Mas ninguém, como Cardeal, jogou com um único pulmão arfando no peito.
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É assim que contam como Cardeal jogava: impossibilitado de correr, ele com seu pulmão solitário, ficava parado nas imediações da meia-lua, debaixo de seu boné vermelho que lhe rendeu o apelido. Não participava do jogo, o Cardeal; assistia-o. A bola corria para lá, para cá, e ele parado, olhando, fincado na grama, meio desinteressado. Seu marcador se aborrecia de ficar ao lado dele. Ali nada acontecia, ali era como se o tempo fosse o tempo pastoso do pesadelo.
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Mas, de repente, a bola chegava ao pé do Cardeal. E ele, estivesse onde estivesse, procedia sempre da mesma forma: girava o corpo de modo a posicionar-se mais ou menos de frente para a goleira e, num toque macio, de chapa, com a parte interna do pé, com aquele ossinho que se projeta ao lado do dedão, batia embaixo da bola, que subia devagar, mansinha, aparentemente dócil e afeita à defesa, só que, eis a malícia, eis a picardia, dois centímetros longe do alcance do goleiro. De alguma maneira o Cardeal, num átimo de segundo, calculava a posição do goleiro, a sua própria posição no gramado, a velocidade da bola, e tocava nela com tal maestria que ela voava em curva na direção inexorável do ângulo, e entrava, entrava sempre, gol do Cardeal.
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Sempre penso no Cardeal, quando surgem essas notícias de doping. Porque o doping pode fazer correr, mas fará jogar? A química ainda não descobriu substância que ensine um gaiato a bater na bola, ainda não descobriu uma droga que faça um perna-de-pau transformar-se em um Cardeal
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David Coimbra
texto extraido do http://gafarroupilha.blogspot.com/2008/05/o-eterno-cardeal.html
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